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Ela se sentia em uma roda-gigante, dando voltas e voltas e no fim das contas, voltando sempre ao ponto de partida, aquele velho e desgastado ponto de partida. Sentia que às vezes (ou na maioria delas) era simplesmente neurótica demais. Mas nas poucas restantes pecava por falta de neurose. Ela fazia de tudo, até mais do que ela em teoria era capaz de fazer e mesmo assim as coisas não ficavam exatamente como deveriam ser. Às vezes ela desejava ter um robô-diário, igual aquele dos Jetsons que pudesse responder todas as suas perguntas e que de fato conseguisse evaporar seus medos, outras vezes ela tinha certeza absoluta que já o possuía.
O ânimo ia se esvaindo a cada dia que passava, até o dia em que ele voltava como um furacão, e ela fazia e acontecia, mas depois de um tempo, quando percebia que voltara a andar em círculos ele ia embora com o vento novamente.
Queria a fórmula da felicidade eterna, mesmo sabendo que tal coisa não existia. Aliás, queria simplesmente deixar de ser tão exigente, afinal, as coisas estavam quase perfeitas.
Ela queria ser muita coisa que não era, queria saber fazer milhares de outras que não sabia, e queria parecer com milhões de pessoas com as quais simplesmente não parecia e aquilo a consumia por inteiro. Ela se reconstruía eventualmente, e voltava a achar que era uma pessoa ímpar, até aquela velha sensação de roda-gigante voltar à tona.
No fim das contas percebeu que por mais que quisesse, algumas coisas simplesmente não iriam mudar. Ela nunca deixaria de ser a chata/implicante de sempre, nunca deixaria de ser neurótica e completamente sem sentido. Ela sempre seria aquela contradição humana, aquela pequena estranha.