Romances e aventuras

Ela continuava sentada ali, como se nada ao seu redor importasse, aparentemente em outro mundo, sorrindo e chorando e fazendo caretas como se estivesse sentindo dores muito fortes. Quem a observava a achava louca, no mínimo estranha, mas nenhuma daquelas pessoas era capaz de entender o poder que um livro e uma boa história tinham sobre ela.
Eles eram seu refúgio, cada um daqueles punhados de páginas impressas comportava um novo mundo, cheio de emoções novas e aventuras, ou mundos já há tempos conhecidos, que eram como um lugar familiar e aconchegante quando ela se sentia deslocada.
Aquelas palavras enchiam seus olhos de novas pessoas, novas paisagens, novas luas e estrelas, novos pontos de vista e opiniões. Eles eram novas experiências, eram novo conforto, eram conhecimento, coisa que ela apreciava acima de todas as outras.
Fossem aquelas palavras teorias mirabolantes dos mais brilhantes filósofos ou descrições elaboradas de cenários dos maiores romancistas, ou simples palavras, elas sempre haviam sido as melhores amigas, e ela descobria agora (ou redescobria) que não só as palavras não escritas, aquelas que ela podia manejar e organizar como bem entendia para expressar seus sentimentos, mas aquelas palavras já impressas, organizadas por um outro alguém que ela nunca havia visto, aquelas presas entre as capas de um livro, eram suas melhores e mais fiéis amigas.

Momentos

Eis uma coisa que eu acabei percebendo durante esse ano, não existe tal coisa de ano melhor, ano-novo, vida nova, na real, o que existem são momentos, uns melhores, outros piores, mas não passam de momentos. O tal ano melhor ou pior é conseqüência direta da importância dada aos momentos ruins ou bons, a quais permaneceram na memória, porque, parando para pensar, todos os anos são cheios de choros e gargalhadas, o que muda é o como lidamos com eles.
Acho que posso dizer que o tal meu ano foi simplesmente um punhado de momentos bons e ruins, um punhado de gargalhadas com os amigos e outro punhado de lágrimas com uns poucos.
Aprendi muito, mais do que em toda a vida, diria. Fui contaminada por aquele vírus que te faz passar mal constantemente pensando no quão fudido está o nosso mundo e sentir aquela permanente sensação de insatisfação. Nas palavras de um professor que entrevistei durante um trabalho da faculdade, fui uma daquelas alunas que decidiu passar mal o resto da vida, mas com os olhos bem abertos para o seu redor.
A vida pessoal não foi mais fácil de suportar. Solidão, sensação de vazio que me preencheu durante 70% do tempo, mas que quando era eliminada, o era por aqueles tão falados amigos, e de um jeito que fazia com que, anulando todas as regras da matemática, 30% fosse mais, muito mais do que 70%.
O namoro, diria que foi difícil, mas gratificante, apaixonante e, acima de tudo, perfeito. Tudo bem, tiveram lá as suas brigas e as suas decepções, as lágrimas, os gritos tão lamentados depois, mas, se não fosse por cada um desses pequenos momentos, talvez não teria sido tão perfeito, porque, certamente, teria sido menos intenso, e, sinceramente, durante esse punhado de momentos, descobri que, acima de tudo, gosto de intensidade.
Em questão de atitudes próprias, diria que melhorei. Ainda preciso deixar de ser tão estúpida quando estou com raiva, e parar de perder a cabeça com as pessoas que amo, preciso deixar de ser tão preguiçosa e me esforçar mais, preciso ter mais atitude, de certa forma, mas isso não é promessa de ano-novo, é meta de vida.
A minha vida meio que se acertou sozinha nesse ano, e sou eternamente grata por isso. Mas pretendo ajeitá-la com as minhas próprias mãos dessa vez e de uma vez por todas.
Em uma palavra, talvez resumiria tudo em aprendizado, um aprendizado FARAÔNICO, do qual saí cheia de cicatrizes e de feridas, mas do qual não me arrependo por nem um segundo sequer.